ES   EN   PT
A cura e o mundo natural

quietudedinamica

10 janeiro 2018

Nenhum comentário

Home Artigos

A cura e o mundo natural – entrevista com Dr. James Jealous

A cura e o mundo natural – entrevista com Dr. James Jealous

Traduzido do original “Healing and the Natural World”, entrevista feita por Bonnie Horrigan publicada em janeiro de 1997 na revista “Alternative Therapies” [Terapias Alternativas], volume 3, nº 1.

 

Há uma razão que leva as pessoas a virem de outros estados para visitar Dr. Jim Jealous, Médico Osteopata, na sua clínica em Vermont. É a mesma razão que leva os alunos a assistirem às suas aulas e que levou o Colégio de Medicina Osteopática da Universidade de Nova Inglaterra a fundar uma bolsa de estudo com seu nome – James Jealous, Excelência em Medicina Osteopática. O Dr. Jealous dedicou sua vida a explorar o mundo natural em sua forma mais fundamental e essencial, e é este conhecimento e seu resultado prático que faz dele um dos mais respeitados médicos osteopatas americanos de hoje em dia.

 

Dr. Jealous se formou na Faculdade de Osteopatia e Cirurgia de Kirksville em 1970 e é certificado pelo American Osteopathic Board [Conselho Osteopático Americano] com proficiência especial em Medicina Osteopática e Manipulativa. Desde 1971, ele tem uma clínica privada em Milton, Vermont e é instrutor clínico na Faculdade de Medicina Osteopática da Universidade de Nova Inglaterra. Dr. Jealous é membro da American Academy of Osteopathy [Academia Americana de Osteopatia], da American Osteopathic Association [Associação Osteopática Americana] e da Cranial Academy [Academia Craniana]; foi presidente do Osteopathic Center for Children [Centro Osteopático para Crianças] em Londres e foi membro da Sutherland Cranial Teaching Foundation [Fundação Sutherland de Ensino Craniano].

 

A revista “Alternative Therapies” [Terapias Alternativas] entrevistou Dr. Jealous em sua clínica em Milton, Vermont no outono de 1996.

 

Alternative Therapies: Nossa filosofia é que enquanto a medicina convencional é muita efetiva em diversas situações, ela não tem todas as respostas. É sobre isso que gostaria de falar com você: as respostas que a medicina convencional não tem.

 

James Jealous: Observemos as condições do ensino médico. Até sermos formados como medidos, todo o processo é altamente contra os princípios da cura. Os alunos não são nutridos, nem encorajados a explorar, nem a se relacionarem como companheiros de viagem numa linda e memorável jornada pelas montanhas da vida. As artes da cura se tornaram bastante estéreis e a visão biomolecular da cura tem limites evidentes, limites que afastam o “indivíduo”. É claro que isso é um reflexo do ecossistema educacional. O crescimento e desenvolvimento de um médico deveriam ser nutridos pelo ambiente mais amoroso e perceptivo que fosse humanamente possível. Isto é de grande importância para podermos ter uma ideia completa da doença.

 

Na sua concepção, a Osteopatia continha uma filosofia, assim como uma ciência. Foi solicitado aos Osteopatas que considerassem questões de alma, morte, transcendência, e que usassem somente as mãos na cura. O pano de fundo sobre o qual a vida ocorre tem significado. Eu acredito que qualquer arte de cura precisa ajudar os indivíduos a encontrarem o caminho para uma realidade mais profunda do que um simples modelo biomolecular de saúde.

 

Para mim, é interessante ver como diversos modelos médicos alternativos estão pouco a pouco se tornando biomoleculares. Muitas curas “naturais” são realmente medicamentos biomoleculares e são usados do mesmo jeito que a medicina tradicional usa os “medicamentos”. A meu ver isso não é necessariamente alternativo, porque uma prática médica alternativa teria uma visão mais ampla e seria muito individualizada na sua aplicação. Não teria um remédio para cada sintoma ou doença, mas uma opção exclusiva para cada paciente. As questões mais profundas sobre a vida precisam ser consideradas e ser parte das questões sobre cura. Nós estamos simplificando demais a arte e perdendo a essência sobre o que é cura. Ser holístico não é utilizar uma grande variedade de “curas”, mas é ver Espírito, Alma e Corpo como um Todo. O tratamento não é subdividido; se for, então temos de observar sua posição em relação ao Todo e não tentar “destruir a doença” (alopatia), mas sim dar apoio para a saúde do Todo. Este foi o princípio da Osteopatia; ele permanece muito pouco vivo, mas é praticado por várias centenas de médicos osteopatas.

 

A ideia de Todo, uma unidade, o indivisível, é estranha para a nossa cultura e está aos poucos desaparecendo como uma forma aborígene que é vista como “primitiva” pelo intelecto. Cada um de nós encara essa realidade em si mesmo e deve antes encarar essa responsabilidade, e depois a percepção virá. Para a nossa cultura é uma questão “profunda”; para a alma aborígene é um estado natural. Precisamos nos focar não tanto em causa e efeito, mas na prioridade do Todo enquanto se move em relação com um Grande Mistério. Ensinar requer um esforço na mesma direção, uma visão do indivíduo Todo se movendo para novas dimensões de vida. Nós precisamos proteger a percepção ecorreceptiva que é o nosso estado natural de ser. Isto está sendo descartado aos poucos e, como resultado, as pessoas estão mais doentes do que o necessário. Se elas ficam doentes, seu equilíbrio interior e sua “tranquilidade” não se sobrepõem ao evento causal e, como resultado, o sofrimento aumenta. O mesmo processo está presente durante o ensino.

 

Se estivermos buscando um sistema alternativo de cuidados de saúde, então o ensino deve refletir essa diferença. A filosofia é insuficiente. Nós devemos tentar viver os princípios. Os médicos não devem priorizar o tempo em sua relação com os pacientes. Este é um problema grave. Um atendimento no consultório a respeito de uma doença aguda precisa no mínimo de meia hora.

 

AT: Não sete minutos?

 

JJ: Eu não sou suficientemente inteligente para praticar medicina em sete minutos. Levar mais tempo é necessário e prudente, mas é também econômico. Eu digo isso porque a medicina alternativa não deveria ser mais cara. Um tratamento osteopático é geralmente aplicado uma vez (para uma doença aguda), o paciente tem uma ideia de porque ele ficou doente e de como isso impacta seus objetivos essenciais de vida, e se recupera mais rapidamente sem medicamentos. Os pacientes a longo prazo começam a “administrar” seu equilíbrio interior e aprendem como permanecerem saudáveis. Tudo isso exige muito menos cuidados de saúde. Curadores são professores, companheiros de viagem e exploradores. Os pacientes estão em papeis semelhantes dentro da esfera de suas vidas. Estamos aqui para que as pessoas se possam ver livres da necessidade de cuidados de saúde rotineiros e não criarem dependência. Atendimentos rápidos no consultório deixam o paciente frustrado e dependente; ou eles voltam toda hora ou eles se afastam e encontram seu próprio caminho. O cuidado médico nos EUA está tentando “arrebanhar” pessoas como gado. Essencialmente, as pessoas fazem o que gostam e acabam encontrando seu caminho adiante por sua própria conta. Os cuidados de saúde rotineiros estão se tornando cada vez menos sensíveis. É interessante.

 

AT: Este tipo de pensamento é o fundamento da medicina osteopática?

 

JJ: No fundamento, sim, mas será que é o status quo? Não. Como em todas as escolas de cura, o âmago essencial profundo é o menos evidente. O indivíduo ainda é a resposta chave; não podemos culpar quem somos em nada. Algumas pessoas apenas desejam servir o máximo possível a Saúde em cada um de nós e não lutar contra a doença. A maioria dos médicos osteopatas comprou o status, materialismo e medo do modelo de medicina convencional. As exceções que encontramos provam o potencial de nossa filosofia. Apenas um pequeno número de médicos osteopatas continua a explorar nossos fundamentos.

 

AT: Quais são esses fundamentos?

 

JJ: Nosso objetivo é aprender sobre as leis naturais usando as habilidades perceptuais que desenvolvemos na nossa formação e na prática. O âmago deste trabalho é perceptual; o conceito cresceu a partir de várias observações até que as leis da natureza se tornaram mais claras. Nós aprendemos a sentir o Todo. Quando estamos com o paciente nós vemos o Todo – um evento muito único e raro em nosso mundo moderno. Não dividimos a vida em Soma, Psique, vísceras, etc. Isto é um evento contido apenas no momento em que se está. É extraordinário. Os pacientes percebem claramente que está presente uma atenção diferente. Eles comentam isso. Não é intelectual nem intuitivo. É aborígene, instintivo. Não há uma conclusão nem um diagnóstico imediatos – isso ocorre muito mais tarde. O momento é preenchido com o esforço de estar presente com a Saúde no paciente e na estória enquanto se desenrola para sua própria resposta. Por vezes isto requer uma forma distinta de observação, paciente e lenta, sem focar em uma necessidade de conclusão. No início, o processo é estranho, mas depois de um tempo percebemos que ele é bem natural; e, essencialmente, ele é. Nós aprendemos nossas habilidades através do aprendizado de algo que não tem nome, mas nos ensina bastantes coisas. Nós aprendemos percepção sensorial sem uma sobreposição conceitual, mas que corre mais profunda do que se possa imaginar. Aprender isto é diferente e exige esforço. Muito poucas pessoas são dedicadas a esta forma de vida; seus interesses são diferentes. Por isso, nossa profissão é amplamente alopática, e isso é uma perda para todos.

 

Nós usamos nossas mãos para diagnosticar, para perceber e para tratar – é tão simples e profundo quanto isso. Não estamos escutando sintomas, mas sim uma prioridade preestabelecida colocada em ação pela Saúde no paciente. O fundador da Osteopatia, um médico cirurgião, teve uma visão e seguiu seu entendimento. Ele ensinou os médicos a usarem suas mãos para curar, junto com remédios muito simples e naturais – dieta, descanso, meditação, oração – nada foi acrescentado além de “cura na prática”. E funciona!

 

AT: Fale mais sobre as leis naturais.

 

JJ: Bom, antes de mais, elas não são feitas pelo homem. Não são concebidas por outra pesquisa a não ser a observação. Segundo, estamos cientes de que muitas leis existem e agem na cura e nós não temos qualquer percepção delas e, contudo, elas atuam profundamente no processo. O interessante é que a nossa percepção pode sentir a intenção das leis naturais, a intenção da Saúde trabalhando, onde prioridades estão sendo estabelecidas. Geralmente, uma vez que isto é comunicado, o paciente já está ciente disso, mas pode ter descartado a informação. Nossa motivação e nossa habilidade é entender a intenção da Saúde no paciente, já que ela atua indivisível na busca do equilíbrio e da harmonia. Como eu disse antes, isto não é limitado pela doença terminal.

 

Depois de sermos ensinados a sentir esta realidade na nossa prática, sentimo-nos muitos abençoados por sermos osteopatas. Muitas pessoas não sentem a beleza disto e usam um modelo mais mecânico e alinham a estrutura para melhorar a saúde, removendo barreiras neuromusculares. Isso é um trabalho bom, mas não tem um interesse contínuo para muitos osteopatas.

 

O mundo natural é dotado de uma consciência que se estende em todas as direções. Nossos números são limitados pelo tempo, pelo interesse e pelos professores. Demora muitos anos, é um estilo de vida, realmente. Minha ideia de medicina alternativa é uma percepção alternativa do mundo, não só da doença. A Osteopatia tem sido alternativa desde 1874. Nós ainda estamos aqui. Medicina alternativa, para mim, trata-se de uma visão de vida diferente, de uma beleza reverenciada e profundamente instrutiva. Receitar óleo de tea tree [árvore do chá] para fungos nas unhas ao invés de um químico potencialmente tóxico é um remédio muito mais natural, mas continua não sendo uma visão alternativa de cura. Qualquer forma de raciocínio que vai atrás da doença para combatê-la é apenas parcialmente alternativa. O que suporta o Todo na sua interface com a sabedoria do mundo natural é alternativo. Suporta a Saúde, o indivisível, a sabedoria transcendente da vida, primeiramente. Em doenças comuns, raramente é preciso mais do que isto. Cerca de 80% das doenças comuns serão curadas desta forma se o paciente for capaz de deixá-lo atuar (ou seja, tempo, percepção). Caso contrário, será necessária uma abordagem mais alopática. A maioria dos cuidados alternativos de saúde ainda está voltando seu foco para um modelo alopático. A pureza da tradição está morrendo porque muito pouco tempo está sendo dado para uma relação mais profunda com as leis naturais. Estamos nos enganando e, em alguns casos, estamos sendo enganados por pessoas interessadas em ganhos financeiros sob a bandeira do alternativo, só que sem profundidade nem comprometimento. Cada um deve saber por si próprio.

 

Deixe-me contar a estória de um paciente que morreu, mas foi curado e estava em paz – saudável.

 

Fazia quinze anos que eu conhecia John. Eu era seu médico de família numa pequena cidade rural. Ele tinha 52 anos e era viciado em trabalho. Sua esposa e seu filho eram muito ansiosos e doentes quimicamente. Ele era focado. Eu o vi durante vários anos, de vez em quando.

 

Aos 52 anos ele desenvolveu um câncer no pulmão devido à exposição a produtos químicos em seu trabalho. Tal como ele pediu, o indicamos a um oncologista. Ele foi tratado com quimioterapia e medicação para as dores (narcóticos). Ele ligou para o meu consultório e chegou procurando um tratamento. Eu concordei. Este pedido foi algo anormal para ele. Ele veio semanalmente. Eu nunca o pressionei ou perguntei o porquê, apenas o tratei seguindo a pureza da Saúde, tentando não engajar a doença, a qual eu senti que estava muito além da cura. Ao longo dos vários meses seguintes senti algo diferente. Tenham em conta que antes ele estava inacessível. Finalmente, eu perguntei por que ele queria estes tratamentos.

 

Eu pude sentir uma profunda mudança debaixo de minhas mãos, alguma coisa que emergiu do sofrimento. Ele me disse que sem o tratamento ele precisava de muitas pílulas analgésicas e que com o tratamento ele não precisava de nenhuma! Eu fiquei chocado, mas não surpreso com isto. Ele continuou, “fico mais calmo, depois dos tratamentos”. De onde estava vindo esta mudança? Nós não o enviamos a nenhum psiquiatra, nenhum monastério Zen. De onde desabrochou a flor? Ele morreu tranquilo, em paz, amando e com suas relações em equilíbrio.

 

Ele me ajudou a entender o que eu apenas havia “sentido” antes. A Saúde no paciente não pode ficar doente ou morrer. Você não pode matá-la. Ela é transcendente. Tudo o que precisamos fazer é escutar, usar nossas mãos de um modo habilidoso, ser pacientes, ter tempo e seguir a Saúde. Então, as leis naturais, não “limitadas pelas mãos humanas” nos revelarão o nosso papel no momento. O intelecto permanece sob controle. Não é realmente da minha conta como o processo de cura está acontecendo.

 

AT: Não é da sua conta?

 

JJ: Tudo o que posso fazer é ajudar a vida a encontrar o equilíbrio da maneira que ela pretender. Esta é a frase chave: da maneira que ela pretende. Eu vi John alguns dias antes dele morrer e era como colocar as mãos na pessoa viva mais saudável. Eu sei que isto parece estranho, mas havia um lindo equilíbrio nele. Ele estava feliz.

 

Curar não se trata de eliminar os sintomas. Trata-se de uma totalidade individual, que nós lembramos instintivamente no momento em que a tocamos. Os tratamentos nos ajudam a recordar e a reintegrar aquilo que não precisa ser aprendido. Em algumas pessoas, a morte é o portal para uma percepção que a nossa cultura removeu.

 

Quando um paciente vem ao consultório estamos sempre começando, a cada momento, apenas esperando e percebendo a pureza e sentindo a Saúde trabalhando. Isto exige anos de treinamento e um amor pelo dom da nossa essência natural. Estamos escutando com nossas mãos a estória se desenrolando na consciência de cada um de nós. Quantos médicos conseguiram ouvir a estória toda?

 

AT: O que você experimenta quando trata com suas mãos? Pode nos falar sobre como é isso para você?

 

JJ: Não é fácil explicar sem falar aquilo que é por si mesmo, por isso espero que isto não seja confuso para as pessoas que não estão associadas com a habilidade perceptual. Eu levei 20 anos para começar a entender. Eu ainda me sinto um principiante. É uma jornada de uma vida inteira até todos os confins da relação com as leis naturais. Estou aprendendo mais o tempo todo. Na verdade, somos brindados com uma vida profunda. Sempre tem um novo relacionamento se expressando; isto acontece durante o tratamento. Os pacientes trazem o aprendizado com eles. Não é dito, mas nossos sentidos o sabem, claramente. Aprimorar as habilidades não é um acontecimento previsível. Novas habilidades aparecem da associação direta com as leis naturais da cura. Aprendemos coisas completamente inesperadas, não encontradas em livros, que não são extensões de habilidades conhecidas, mas são frescas. Eu nunca sei qual será o próximo “fato”. Eu confio plenamente que seguindo os princípios do meu treinamento, o entendimento crescerá.

 

O que acontece quando coloco minhas mãos no paciente, isso é uma questão profunda. Minha resposta será pessoal. Não posso falar pelos meus colegas osteopatas ou pelos meus alunos. É uma questão de integridade com nossa própria Saúde e de uma relação profunda com o dom da vida.

 

AT: Você ensina o que está falando? Você não está ensinando como manipular ossos, está?

 

JJ: Sim, eu ensino ossos, mas isso é parte de um contínuo. É preciso entender e trabalhar com os ossos, por um longo período; isso aterra os sentidos e nos ajuda a entender a assimetria e o equilíbrio no Todo. É o modelo sensorial básico. Aprendem-se todas as técnicas normalmente divididas em manipulação, counterstrain[1], liberação miofascial, craniana, etc., e muitos anos de anatomia. Anos entendendo o movimento até você sentir uma unidade normal de vida. Começa-se a sentir as forças da cura. No início, nossa mente fica confusa porque não é um modelo mecânico ou hidráulico. Muitas pessoas param aqui. Acredito que é muito difícil acreditar no que se sente. Nós estudamos embriologia, as leis da nossa formação, “nunca esquecendo a proporção perfeita”, como disse um embriologista. Nós percebemos esta sabedoria e a precisão que ela exige de nós. Precisamos de um treinamento longo. Algumas pessoas realmente acreditam em atalhos, mas a vida nos quer Totais – não uma parte de nós, mas o Todo. Temos que ter a paciência de tolerar nossa ignorância e não escondê-la. Temos que acreditar que somos “especiais”. Eu não falo em ser melhor, mas em uma criação consciente de inteligência mais elevada, como algo belo. Nós somos parte da arte da natureza.

 

Ensinar exige um treino individual e um real respeito pela Saúde do aluno. Não somos professores, mas parceiros de viagem numa estrada de escolhas, não de escravidão. Eu ensino no ritmo definido pelo aluno (isto se aplica a todos os níveis, seja um estudante universitário ou alguém pós-graduado há muitos anos). É do coração para as mãos. A lição mais difícil para ensinar é como trabalhar no ritmo da Saúde. Nós não saímos eliminando toda doença. Você sabe, três minutos de espera é uma tortura para algumas pessoas. Nós precisamos de tempo, tempo “livre”.

 

Os alunos aprendem que eles já são “hábeis”, perceptivos. Nós permitimos emergir o que é natural; eles se surpreendem. Muito poucos professores tentam e nos ajudam a ver a vida dinâmica que somos. Não precisamos nos tornar iluminados, nós já somos. Nós precisamos sentir a nossa totalidade, relaxamos nesta beleza e começamos. A vida por si só é linda. Não deixo de ver a violência e o sofrimento. Eu as vejo e vejo “outra” coisa nos sustentando. Está faltando este foco na medicina. Minha experiência com a medicina convencional não é prazerosa por causa do seu foco. Há cerca de quinze anos atrás eu tinha um inchaço na minha tireoide. Fui a diversos especialistas e me foi dito que eu tinha câncer. Estavam todos muito nervosos, excitados, perturbados; tinham falta de discernimento e estavam com medo do meu câncer. Eles traçaram uma imagem mórbida. Eu estava com muito medo. Eu lhes disse que não voltaria, porque percebi pelo medo deles que eu estava com medo de morrer. Isso me surpreendeu, porque eu acreditava que amava a vida o suficiente para morrer sem medo. Eu decidi que precisava ficar em paz com a morte e não fazer nada por medo. Os médicos estavam bravos. Eu nunca falei a ninguém. Eu simplesmente decidi que queria ficar livre do medo. Era uma questão de integridade com o dom da vida.

 

Eu não toquei no tumor durante um ano e meio. Fiz isso porque realmente era assustador senti-lo e pensar sobre a morte, o câncer e um “vazio”. Eu tentava não me deixar esquecer do medo que tinha da morte. E depois eu seguia com o meu dia. Nada mais. Eu realmente tentei ver meu medo e ajudá-lo através deste mal-entendido. Ele foi embora. O tumor foi embora e nunca mais voltou. Não estou proclamando uma autocura. Não tenho a menor ideia sobre o que aconteceu ou porquê. Mas eu tive a escolha entre meu espírito e o medo. Tenho orgulho de fazer parte da natureza, eu amo a natureza. Tenho orgulho de estar mesclado com as árvores, o sol e tudo o mais. Este sentimento de totalidade foi violado pelo medo. Eu não podia parar de amar o que me deu forma e consciência. Eu trouxe o medo junto comigo e continuei. Nós somos iluminados, nós sabemos que pertencemos intimamente à vida, e isso é precioso, ela continua nos dando 100% a cada um de nós, sem restrição. É simplesmente a verdade.

 

AT: A Osteopatia tem uma definição de morte?

 

JJ: O fundador, Dr. A. T. Still, disse: “o corpo é uma segunda placenta”. Acho que a pergunta é melhor respondida ao dizer que a morte não existe. Eu não imponho o meu entendimento no paciente. Eu amparo todas as decisões deles, desde o momento que eles estão claros quanto à sua escolha de cuidado de saúde. Eu tenho pacientes de todos os lados destes assuntos. Meu trabalho é permanecer consciente da saúde que não adoece neles e dar suporte a ela. Os pacientes são habilidosos; é preciso humildade para pedir ajuda. Quando coloco minhas mãos num paciente eu começo por sentir a totalidade, o transcendente, não como uma ideia ou como uma verdade eterna, mas esperando até ela estar evidente. Eu vejo o medo, eu o sinto em minhas mãos, eu sinto a doença, as lesões, a história, e eu espero. Eu estou esperando algo que não conheço; não um diagnóstico, isso será mais tarde. Agora, neste momento, a Saúde está fazendo interface com a doença. Esta prioridade deve ser vista diretamente, e não ser deduzida.

 

AT: Como você mudaria nosso sistema de saúde para acomodar isso?

 

JJ: Se examinarmos se podemos ou não mudar o sistema de saúde em nosso país, nós não podemos. Nós queremos que as coisas mudem, porque acreditamos em coisas diferentes de outras pessoas, mas certamente as pessoas que praticam a medicina têm o direito de praticar medicina do seu jeito, e existem pacientes que preferem formatos diferentes. Não acho que seja nosso lugar ditar o que deveria ser feito.

 

Nós nunca tivemos um abrigo seguro, inteligente e eficaz para pessoas que querem praticar medicina holística. Precisamos reconhecê-las. Ao invés de colocá-las para baixo porque elas querem despender tempo com os pacientes, nós precisamos dizer, “isto está bem”. Precisa haver algum tipo de reconhecimento. Eu não acho que vamos mudar o sistema de saúde de nosso país, porque ele não está sendo dirigido por médicos. A psique, o conteúdo metafórico, atrás do sistema de saúde é a mesma coisa que acontece nos filmes e tudo o mais. É fast food. As pessoas querem ação e elas querem agora.

 

Talvez eu seja ignorante, mas acho uma besteira tentar mudar qualquer coisa por imposição. O que faz a medicina alternativa ser o que é, se está sendo alguma coisa, são os indivíduos. Ao invés de ter pessoas recrutando outras, eu prefiro vê-las em seus consultórios trabalhando. Deixe os estudantes irem a eles. Faça-os trabalhar. Porque é trabalho. Fique no centro e espere.

 

AT: Voltemos ao assunto da cura.

 

JJ: Cura é a emergência da originalidade. Vamos dar uma olhada nesta sentença por um momento. O Sopro da Vida vem para o corpo. Nós podemos sentir vários ritmos que são criados a partir dele, e podemos perceber que um processo se inicia. Não o estamos alterando. Não o estamos analisando. Podemos perceber o Sopro da Vida entrar no corpo, vir para a linha média e através da linha média, gerar diferentes formas de ritmos no campo bioelétrico, fluidos, e tecidos. Essencialmente o que ocorre é gênesis. Nunca pára. Momento a momento estamos construindo nova forma e função. Sente-se isto, diretamente.

 

Quando lia a literatura sobre embriologia, encontrei a pesquisa feita por um alemão chamado Blechschmidt. Ele foi um cientista apaixonado pelos embriões. Sua questão era sobre a Biodinâmica e a Biocinética do desenvolvimento humano. Como isto funciona? O que acontece? Ele nunca teve sua resposta. Ele escreveu que a causa da origem do embrião é mantida na consciência do próprio embrião. Esta não é uma citação direta, mas tem um segredo, um mistério que deve permanecer. Pode-se sentir a sua gênesis. Está no centro do processo da Cura.

 

Blechschmidt era fascinado pelo fato de que havia uma força dentro dos fluidos do corpo que não vinha do campo genético. Esta força dentro dos fluidos contém de fato a idéia da forma do corpo humano, que pode ser o rim, a vértebra ou olho, e traz isto na sua manifestação. Então o gene a modifica. Assim, nós temos modificações genéticas, culturais e raciais. Antes destas modificações há uma forma divina. Ela coexiste durante nossa vida toda. Existe um momento em que estamos todos perfeitamente amparados na matriz da mais fina intenção, um momento de cura.

 

Blechschmidt descreveu seis diferentes caminhos nos quais os fluidos interagem entre eles dentro do corpo. William Sutherland, o fundador e gênio da osteopatia no campo cranial, percebeu estas forças nos fluidos. No entanto, eles nunca se encontraram ou leram os trabalhos de cada um. Quando li que este embriologista estava descrevendo as mesmas forças nos fluidos como o fez um dos grandes professores de osteopatia, isto foi o suficiente.

 

Desde então despendi muito tempo apenas olhando as fotos de embriões nas primeiras seis semanas de vida, antes da genética tomar conta. Muitas pessoas não concordam com o que estou falando, ou talvez irão interpretar erroneamente, mas estas forças existem. Muitas culturas antigas reconhecem esta verdade. Mas como eles sabiam? Eles sabiam porque era uma coisa que eles percebiam diretamente, um fato natural.

 

Agora, estamos apenas numa viagem filosófica ou há algum conhecimento prático na percepção e entendimento de que há uma força respiratória no corpo 24 horas por dia? Está vigilante, está alerta, trabalhando pelo paciente. Não pode se tornar doente. É anterior a isto. Tudo o que faz é carregar a forma original naquela pessoa. E é o que emerge daquele homem que teve câncer quando ele soube que ia morrer. É o que chamaríamos de “seu espírito”. Porque veio daquela maneira, naquele momento, não sabemos. Mas faz interface com todos os momentos da nossa vida. O ar poluído vindo em nosso nariz, os bons pensamentos que temos, nosso cabelo, nossa idade, o quanto urinamos. Faz interface com cada momento e se parar de estar lá, você não morreria, você dissolveria. Você não teria a matriz para sua consciência, mesmo depois da morte.

 

Vamos dizer, há três anos atrás você bateu sua cabeça e desde então você sente tonturas. Você tomou todo tipo de medicamentos e nada funcionou. Você até teve vertigem. Se você tivesse ido ao meu consultório e eu tivesse colocado minhas mãos em você, eu não estaria olhando para o padrão de tensão no seu corpo. Eu não olharia para a sua doença. Eu observo o Sopro da Vida, esta força no seu corpo que é imutável, e olharia como ela estaria tentando te ajudar. Sua doença era precognitiva. Sabia que você estava caminhando para o muro antes de você ir, não de uma forma psicológica, mas perceptualmente, algo que sabia.

 

AT: Você está falando de premonições?

 

JJ: Não estou falando de premonições. Se você falar com muitas pessoas que têm acidentes automobilísticos, milésimos de segundos antes de acontecer, eles sabem dele. Estou falando de como o corpo está preparado para receber o choque, seja ele emocional, bioquímico, genético ou físico. Assim, o tratamento está estabelecido antes também, e certamente durante o processo de atingir o corpo, o espírito ou a alma.

 

O plano para o paciente ficar bem está lá porque aquilo que fez o corpo é o que estabelece o plano. Ele cria compensação para manter o equilíbrio – o que chamamos de homeostase – durante o maior tempo possível. Agora eu sei que se um médico ouvir isto dirá “isto é louco”. Algumas ideias de saúde são extremamente estreitas, então a morte é um insulto para os médicos. Mas é muito maior do que isto. Nós podemos sentir o movimento desta força dentro do corpo, imutável tanto no adulto quanto no recém-nascido, e até dois ou três dias após a morte. Depois, parece desaparecer. Agora, não quero falar disto, porque isto é avançar para a outra extremidade, e há muitas coisas que não sei a respeito. Mas acho que Elizabeth Kubler-Ross prestou um grande serviço para a humanidade. Ela nos fez acordar para o fato de que havia mais perfeição do que se apresenta para nós. Ela colocou o amor na linha de frente. Não era o amor emocional. Era um conhecimento inconsciente do vínculo que existe entre todo ser humano antes mesmo de você encontrar a pessoa. Isto é muito uma realidade.

 

AT: Diga mais sobre a prática de Osteopatia.

 

JJ: O paciente vem ao meu consultório. Ele deu uma pancada na cabeça, e ficou com tonturas. Isto vem acontecendo há três anos. Assim, se colocamos a mão no corpo do paciente, a primeira coisa a fazer é abrir nossos sentidos para o espaço periférico no consultório e estender para o horizonte, por suas próprias forças. Não pela intenção. Muitas pessoas gostam de usar sua intenção, sua atenção, e gostam de visualizar. Eu sei anatomia suficientemente para saber que se eu tento visualizar anatomia, eu estaria cometendo um terrível erro, porque há muita variação. Para mim estes elementos de atenção e visualização não entram no processo terapêutico. Eles têm lugar em outros temas, mas não neste.

 

Assim como seus pulmões inspiram e expiram, a atenção inspira e expira. Você sabe como pode relaxar o abdômen para você não respirar para cima o tempo todo? O que aconteceria se sua mente tivesse a possibilidade de respirar?

 

Ao invés de trabalhar com a respiração ou ar, nós trabalhamos com o Sopro da Vida. Nós deixamos a mente respirar. Isto é um trabalho duro. Algumas pessoas começam a chorar depois de fazer isto pela primeira vez, porque percebem que foram feitos à mão, a propósito, por um artista que ama o seu trabalho. Eles se sentem completamente abraçados pela vida e percebem a mágica. Então, lutam para que isso retorne. E é quando eles fracassam porque você deve soltá-lo. O primeiro passo para sentir o Sopro da Vida não se trata de apalpação ou remexer procurando lesões. Primeiramente, você sente a Saúde do paciente. Você está sentindo o Sopro da Vida como ele vai para um organismo vivo, naquela pessoa, e você está sentindo o corpo, a alma, e espírito como uma completa unidade em funcionamento. Não há partes. Se você divide corpo, alma e espírito, mesmo conceitualmente, nas suas mãos, você não está fazendo o que estou falando. Você está fazendo outra coisa.

 

Eu não estou falando sobre colocar as mãos numa pessoa e dizer: “esta pessoa é nervosa”, ou “está tendo um dia ruim”. Isto é intuição. Isto é uma coisa totalmente diferente. Você sente o Sopro da Vida atingindo o corpo e surge a linha média. A linha média é uma linha bioelétrica que é uma reminiscência da notocorda formada no embrião. É a primeira linha de orientação de toda a dinâmica espacial. O Sopro da Vida entra ao longo desta linha, e então cria mudanças no corpo. Cria movimentos, fluidos, tecidos e assim por diante. Nós sentimos isto.

 

Esta Saúde no paciente esteve tentando curá-lo desde que a doença foi impressa. Assim, no caso da pessoa com tonturas, a Saúde esteve trabalhando nele por três anos. Ela tinha o plano para curar. A pergunta mais comum que tenho agora dos estudantes é, “porque ela não cura o paciente sem nossa ajuda?”

 

AT: Eu ia perguntar exatamente sobre isto.

 

JJ: Quando você atinge o vórtex da interface entre as forças de cura e a deformidade, poderia ser 100 gramas por polegada quadrada de pressão sendo retida na deformidade. A força do insulto estabelece vetores no corpo.   Eu não desejo isso a ninguém, mas vamos dizer que você viu um amigo ser atropelado por um automóvel. Quantas gramas por polegada quadrada você acha que o choque foi colocado no seu sistema? Um monte. O suficiente para você poder levantar um automóvel. Vamos supor que se esta força de cura pudesse equilibrar 100 gramas por polegada quadrada no seu corpo, você romperia todas as artérias, veias e linfas. Se ela produzisse a força necessária para curar diretamente, sua própria arquitetura entraria em colapso.

 

Assim não há ganhos. Em outras palavras, é preciso curar através de transmutaçoes, que é mudar a força física em outra forma de força com a qual poderá lidar. Num certo ponto de amaciamento, muito rapidamente, como num estalar de dedos, ela muda para outra forma de energia. A informação para a mudança vem do Sopro da Vida. Assim, a desproporção da lesão ou doença ou ferimento é limitada em todos os lados. O processo da doença é uma decisão inteligente feita pelo Sopro da Vida para proteger o organismo de se destruir. Doença não é um inimigo. É uma inteligente, sábia decisão para entrar em equilíbrio.

 

Pense sobre a morte. O que você recupera na morte?

 

AT: Nossa forma original.

 

JJ: Certo, nossa forma original. É inacreditável quando você a vê. Você sabe quantas vezes, depois de alguns tratamentos, o paciente dirá, “eu sinto mais de mim mesmo?” Eles dirão “eu consigo ver luzes se movendo através da superfície das folhas após a chuva”. Eu digo, “sempre estiveram lá”. Não é um campo perceptual místico. É normal.”

 

Nós somos naturalmente bem dotados.

 

O que aconteceria se você reclamasse sua forma original? Não seria interessante saber quem você foi? Não seria interessante saber a intenção do Sopro da Vida quando ele te fez?

 

AT: Você fala sobre estas coisas com seus pacientes?

 

JJ: Esta conversa que estou tendo com você, num nível pouco detalhado, acontece com meus pacientes na maioria das vezes. Eu não tento falar sobre isso com eles. Eu não posso dizer que os amo no termo casual da palavra, mas eu vejo algo neles e sei que está vindo, e eu pergunto, “por que não agora?”

 

Porque não ficam todos melhor? Simplesmente não é o tempo. E esta é a única resposta. O paciente não deveria se culpar por não melhorar. Se os médicos tradicionais erram em não dar tempo suficiente aos pacientes entenderem o corpo, alma e espírito como um todo, os praticantes de saúde alternativa fazem igualmente erros quando responsabilizam os pacientes por não estarem conscientes suficientemente para melhorarem. Não é culpa de ninguém. Trata-se mais de tempo e momento de cura.

 

Pessoas não são estúpidas. A maioria é muito brilhante. Alguns médicos se acham mais inteligentes que qualquer um, mas isto não é verdade. Somos todos muito humanos.

 

AT: Como você ensina os alunos a sentir estas forças?

 

JJ: Primeiro, eu digo que eles podem praticar do jeito que eles quiserem, desde que seja seguro, efetivo e inteligente. Eles podem escolher não seguir a prática do meu jeito. Assim, eles me vêem tratar pacientes e eu os ensino baseado nas questões que eles levantam. Eventualmente, eles querem imitar o que estou fazendo. Assim, eles imitam algumas vezes e funciona, e eles pensam que o fizeram, e então não funciona mais. Aí eles se tornam autocríticos, sua autoconfiança cai.

 

Eu tento convencê-los de que eles já estão completamente habilitados. Eu tento que eles descubram algo extraordinário neles mesmos. É só uma questão de tempo. Se eles deixarem relaxar suas mentes, sentarem e escutarem o paciente da mesma forma que eu faço, eles virão com as respostas. Normalmente, leva dois anos para que eles aceitem isso, antes de tentarem com um paciente. Eles devem ver setecentos, oitocentos pacientes durante esta fase de treinamento, mas geralmente são dois anos antes deles tentarem. Então eles esperam e começam a encontrar a Saúde.

 

Recebi a carta de uma estudante ontem. Eu a treinei por cinco anos. Ela investiu 400 horas intermitentemente comigo antes de praticar à residência numa família convencional. Ela foi recentemente designada para uma senhora de 92 anos de idade, que esteve em boa saúde até que desenvolveu um tumor no seu pescoço, que era um carcinoma de célula escamosa.

 

Minha aluna escreveu, “enquanto a condição física do paciente deteriorava rapidamente, ela estava obviamente com medo do que estava acontecendo com ela, assim como sua família”.

 

Vejamos, aqui está uma estudante no hospital, cuidando de um paciente terminal com câncer de célula escamosa. Eu acho muito bom que ela tenha percebido que o paciente e sua família estavam apavorados. De qualquer forma, para falar brevemente de uma longa história, ela escreveu “me encontrei sozinha com meu paciente, um raro momento. Enquanto eu escutava seu coração eu percebi o que realmente estava tentando fazer. De um lado, eu pude sentir o medo dentro desta senhora, quase um zumbido dentro do seu sistema nervoso. Mas por baixo, estava um doce sentido de saúde e certeza.”

 

Então ela escreveu, “enquanto estava lá, eu senti uma forte mudança.” (ela estava tratando o paciente).

 

Isto significa que a divisão entre o medo e a doçura se foi. O sistema nervoso autônomo, o parassimpático e o simpático entraram em equilíbrio, provavelmente através do efeito do tratamento em seu sistema límbico. Ela sentiu a mudança, a qual ela não conseguiu descrever. Ela então escreveu: “o paciente pareceu relaxar. Teve uma noite calma, que era muito raro, e quando fui checar esta manhã, ela parecia muito confortável. Ela morreu alguma horas depois.”

 

Uma extraordinária história. Nós não sabemos, mas há uma boa possibilidade do tratamento ter deixado ela fazer a passagem facilmente. Ela apressou o processo da morte? Não. Ela ajudou o paciente a entrar em equilíbrio, e então o sistema foi na direção que ele naturalmente iria. Nós não tomamos aquela decisão, e é isto que faz a osteopatia uma ciência natural.

 

AT: Parece haver uma mágica no momento em que alguém percebe a doçura, a inefável força original. Parece ser o momento chave.

 

JJ: é um momento chave. O reconhecimento da Saúde é um momento que está sempre lá. Você chega na conclusão sobre o que é o plano original e o que ele está tentando fazer, e você de fato o ajuda a ir naquela direção. Isto pode ser uma força muito sutil.

 

Você deve estar exatamente naquela interface, e você deve ter assistido, assistido e assistido tanto que naquele ponto onde se faz a interface, você pode estar presente com a ação do plano.

 

AT: É como um empurrão?

 

JJ: Quando você lê o plano, lê o tom, a textura, a intenção, a intensidade, e o tempo como uma coisa só. Você conseguiu todos estes cinco elementos, e mais. Quando eles entram em equilíbrio, você aceita exatamente o que está lá. Há outras formas para tratar que são efetivas, mas estamos falando especificamente sobre o Sopro da Vida e seus efeitos sobre o corpo.

 

AT: Algumas palavras finais?

 

JJ: Quero sintetizar as coisas que acho importantes. Primeiro, que o todo é real. Medicina holística não significa que você faz homeopatia, acupuntura, e osteopatia, e lhes dá antibióticos. Medicina holística significa que o paciente é indivisível. Uma pessoa não pode ser quebrada. Medicina holística significa que você tem habilidade para perceber o todo, e não quebrá-lo em partes, o que é uma grande responsabilidade.

 

Falamos sobre leis de geração e cura, cura como a emergência da originalidade e ela pode acontecer a qualquer momento.

 

Outra coisa é o treinamento perceptual. Você deve reconhecer o talento que você recebeu. O Sr. Laurens Van der Post escreveu alguns ótimos livros sobre percepção. Ele é um extraordinário professor. Se você quer entender sobre percepção instintiva, o seu trabalho com os aborígenes na Africa é uma grande fonte.

 

No livro de David Abram, The Spell of the Sensuous, ele fala a alguns médicos que sabem sobre as seis direções da percepção. É um bom livro para ajudar as pessoas a explorar a realidade. Há três anos atrás eu dei uma conferência sobre percepção, sobre a importância do horizonte em nossa percepção. Era totalmente através da minha própria experiência. Quando li o livro de Abram, foi uma boa afirmação para mim.

 

Para mim, o essencial é permitir que a sua atenção vá além da linha do horizonte, deixe-a livre, então espere que ela volte por ela mesma. Há uma ponte perceptual aqui que nós podemos ensinar às pessoas.

 

A outra coisa que falamos a respeito foi que o programa de tratamento para o paciente é priorizado pelas forças que formam o corpo, assim quando o paciente chega, o programa de tratamento já está estabelecido. Nós não criamos um processo de tratamento. Nós temos que descobri-lo. Esta é uma grande decisão e deve ser explorada.

 

Falamos sobre transmutação e sobre como a morte não é uma doença.

 

É importante não limitar o paciente à sua prática. Se você está sentindo que não está ajudando o seu paciente, procure ajuda. Se o paciente não quiser ir a nenhum outro profissional, então procure saber por que ele está com medo. Mas mantenha a expansão das influências na vida do paciente e não se agarre a ele.

 

É muito interessante que a comunidade de cura natural tenha se aproximado da Alopatia para obter resultados. O paciente chega com sintomas e toma medicamentos para os sintomas. É como prescrever prescrição de drogas. Eles estão presos a um formato intelectual e ainda não se deram conta. Medicina natural é medicina natural. Agora, o que esta palavra significa? Natureza significa tudo que vive ou que respira ou que é. Também as luzes das estrelas? Eu aposto que muitas pessoas ficariam bem se apenas fossem caminhar à noite e olhassem as estrelas. Toda terapia é única para as condições do agora, não a doença.

 

Qual o beneficio de dar aos pacientes todo o tipo de coisas até realmente entendermos o que é todo o processo? Um verdadeiro curador não dá exatamente o mesmo medicamento para a mesma doença duas vezes. Assim, se queremos praticar medicina alternativa, nós temos que nos libertar dos menus. Devemos olhar para os menus como um sistema de suporte para passar o tempo, mas não é o fim do caminho, e não estamos todos no mesmo tempo.

 

A osteopatia tradicional não se trata de um cuidado ocasional da saúde. É uma longa relação com pessoas onde quer que você pratique. Leva anos para você conseguir conhecer outro ser humano. Algumas pessoas eu tratei por 30 anos. Eu não estava amedrontado por suas doenças, e acho isso importante.

 

Outro ponto importante é que a relação entre aluno e professor é uma coisa de longa duração. Temos que aceitar a responsabilidade de sermos ensinados. Um dos meus melhores professores foi um homem idoso que encontrei um dia no rio. Eu estava pescando num lugar alto no campo e houve uma tempestade incrível. Ele foi para seu carro e voltou para a cidade, para sua casa. Eu não tinha nenhum lugar para ir, então lhe perguntei se poderia ir à sua casa. A tempestade veio e sua casa trailer tremia em sua fundação. Os fios elétricos caíram na estrada e havia descargas elétricas por toda parte. Havia ambulâncias e carros vindo de todos os lugares.

 

Eu sentei ali numa mesa com este homem e ele nunca se moveu. Nós apenas ficamos sentados. Dentro do trailer havia uma quietude ao redor. Foi incrível. Estávamos apenas sentados no trailer com todo este caos acontecendo. Depois de 20 minutos tudo se acalmou. Ele me olhou e disse: “eu nunca pude entender porque as pessoas se agitam na vida e fazem uma emergência”. Então ele ficou ali sentado. Vinte minutos depois ele se levantou e começou a cozinhar. Ele sabia como deixar o momento ser a fonte e o centro do seu templo; ele era uma lembrança viva.

 

Consequentemente nos tornamos bons amigos. Este foi um momento importante, porque percebi que não são apenas os osteopatas que estão fazendo este tipo de trabalho que podem entender o que acontece no momento ou que têm consciência do Sopro da Vida e daquela quietude. Nós todos estamos cientes de alguma coisa maior e precisamos lembrar nossa Originalidade.

 

A organização da manutenção da saúde que nós todos procuramos é o que faz um embrião. Ela gera e mantém vida.

 

Não acho que tenha qualquer coisa de errado em centrar sua prática geral em todo o ser humano. Nem todo o mundo estará interessado, nem achará que você está fazendo um grande trabalho. Mas não se trata disso. Trata-se de que se existe ou não um padrão geral na sua prática que é útil às pessoas e seu bem estar.

 

E a última coisa, em letras maiúsculas – É UM TRABALHO DURO. Então prepare-se para viver realmente!

Obrigado.

James Jealous[2].

 

[1] Técnica desenvolvida por Lawrence Jones, também conhecida como “liberação espontânea por posicionamento” e conhecida no Brasil como “Técnica de Jones”.

[2] Nota de rodapé.

 

Tradução por Beatriz Rheingantz e revisão por Paulo Filipe com a autorização do Dr. James Jealous que detém todos os direitos autorais deste texto, o qual não pode ser distribuído fora do âmbito de estudos dos cursos de Transmutation Therapy e Terapia de Integração Craniossacral® ministrados pelo Instituto da Quietude Dinâmica sob direção de Aziza Lurica Noguchi (2015).